25 de julho de 2014

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Carta a Theodoro e Marina





Muito se ouve dizer que livros são os melhores amigos. Alguns de fato o são, de coração. O que dizer então de um livro que, além de ser do coração, nos faz descobrir mais dois amigos? Foi o que aconteceu comigo durante a leitura de “Theodoro & Marina - Cartas para sentir a infância”, de autoria de Cláudia Freire de Lima e Maria Helena Sleutjes, da Zagodoni Editora. Bem, por enquanto é só, perdão pela pressa, mas o essencial está dito. Tenho algo muito mais urgente a fazer: escrever aos meus dois novos amigos. Vou começar já:

"Oi!

Meu nome é Claudio (tem mais, mas acho que isso não interessa). Conheço o nome de vocês: Marina e Theodoro, ou, para ninguém achar que gosto mais de um do que do outro, Theodoro e Marina. Está bem assim? Vocês vão se perguntar: mas como ele conhece o nome da gente? Ah, isso também não importa muito.

O que importa é que sinto que tenho algumas coisas em comum com vocês, por exemplo, eu moro no planeta Terra, gosto de brincar, escrever poesia, fazer muitas perguntas sobre coisas que as pessoas às vezes não dão muita bola (“Quando quebra por dentro ninguém ajuda, socorre, ninguém engessa, porquê né?), acho a amizade uma coisa deliciosa e sinto que viver é tão bom! 

Mas tem uma coisa: eu sou adulto, ou melhor, me chamam de adulto, e vocês são crianças, ou melhor, chamam vocês de crianças. Mas, querem saber? Acho esse troço de ser chamado disso ou daquilo uma grande bobagem. Minha avó dizia que amor não tem idade, eu não entendia bem porque ela me repetia isso tantas vezes. Acho que hoje, lendo umas cartinhas que uma amiga me deu de presente, eu entendi prá valer o porquê (minha professora me ensinou que é feio escrever prá, que o bonito é para, mas acho que prá faz um barulhinho tão gostoso!).

Amar, seja a gente chamado de criança ou adulto, é a única coisa que não sai de moda, não envelhece, tem valor para sempre, acho que é isso que minha avó queria dizer.  Eu escrevi uma poesia, um dia eu mostro para vocês, que termina assim: “O amor é o triunfo do tempo sobre si próprio”. Se vocês gostaram muito bem, se não gostaram, muito bem também. O que vale é que eu achei vocês muito fofos e que, dentro do meu coração, vocês são e serão meus amigos para sempre, pouco importa se vocês vão dar bola para o que eu escrevi ou não.

Tchau!

Claudio (meu pai me chamava de Cacau, podem me chamar também)

Psiu: Eu também não gosto que joguem lixo fora do lixo. Quando vejo alguém jogar papel no chão falo bem assim: olha, você deixou cair uma coisa. Às vezes me olham com uma cara feia, mas outras, ficam envergonhados e recolhem o papel. A gente tem mesmo que cuidar do planeta. Pode ser que o mundo não seja do jeito que a gente quer, mas se a gente não cuidar com carinho, o que vai ser dele?  Ah, outra coisa: adorei esse psiu!"

21 de julho de 2014

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Con-graça-mento Diário

À Graça Nunes


Uma caixa grande me aguardava à chegada de São Paulo
Encomenda, disse-me o porteiro ao lado
Como assim, se nada aguardava, se nada pedi?
Já está aqui faz uns dias, foi o que ouvi

Subi a surpresa nos braços
Feito um buquê de flor
Nem leve, nem pesado demais
Só o perfume do enigma

Desembrulhei com cuidado
Para não despetalar de uma só vez a surpresa
Frágil estava escrito por fora
Dentro me aguardando há dias
O que haveria de ser?
Uma aba para cá, outra prá lá
Destampei

Sussurro de celofane
Laço de fita sedoso
Cesta trançada, cartão
Taça, garrafa, coração
Chocolate, amêndoa, castanha,
Bem-casados na caixinha, dourada espera

Casa inteira sorrindo
Gatos farejando tudo
Diários sobre a mesa da sala
A festa do lançamento continua

Isso tem um nome:
Graça, Graça, Graça, Graça
Sim, isso mesmo
Quatro vezes Graça
Con-graça-mento Diário

Graça que faz graça da distância
Graça que dá o ar de sua graça
Graça que provoca alegria de graça
Graça que rende graças ao coração