29 de março de 2013

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A cor do sexo



O "astro" do Jardim Botãnico de Kandy (Sri Lanka)

Vi uma foto espetacular de um bando de macacos, coladinhos uns nos outros, todos com rosto cor-de-rosa, rosa mesmo, choque. Uma imagem espetacular(osa).

Lembrei de um macaco que vi no Jardim Botânico de Kandy, Sri Lanka: pelo ruivo-aloirado, peito branco bem escovado, rosto rosa, sombra azul nas pálpebras, todo serelepe e faceiro fazendo estripulias no gramado, para frisson dos visitantes e furor das máquinas digitais. Um verdadeiro astro.

Curioso.

homens, grande maioria, que não usam nada rosa, vibrante, acham que é "coisa de menina". Melhor mesmo não chamar muito a atenção: vai que a explosão de cor abala a masculinidade? Homem que é homem, ou melhor, que quer se assegurar de que é, precisa se parecer com outro, vestir um padrão, fazer bando em torno do “mesmo”. Sempre é bom lembrar: originalidade é “coisa de menina”, mesmice, “coisa de menino”. Homem para ser ou parecer (pare-Ser) homem, tem que usar uniforme, uni-forme: calça, paletó, camisa, gravata, de preferência, mesma cor, mesmo corte, mesmo tudo. Homens são extremamente monótonos, mono-tons. Acessórios nem pensar, relógio, no máximo pulseira, e olhe lá. Brinco, colar? Hmm...melhor não. Pode parecer duvidoso, suspeito: com a masculinidade não se brinca.  

Mulheres são mais ousadas, coloridas, usam até terno, “coisa de menino” (o contrário, nem pensar: homem de saia? Eu, hein...). Mas na hora de presentear os homens, mulheres preferem não arriscar muito: ficam na mesmice da "coisa de menino". Homem - ouço muitas se queixar - já está difícil, vai que fica ainda pior? Melhor não facilitar e deixar tudo como está, cada cor com seu sexo, cada sexo com sua cor. E o arco-íris, claro, com os gays.  

Pensar que viemos do macaco. Ou será que não?

27 de março de 2013

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O não saber que nos une





Relendo a "Apologia de Sócrates", texto de Platão, damo-nos bem conta de que aquele que crê saber, não procura saber. 
É o caso dos deuses. 
Também dos psicóticos. 

Uns e outros não desejam saber, tampouco precisam buscar saber, posto que são a própria sabedoria. Em outras palavras, não são filósofos. 

Quem pensa saber, satisfaz-se consigo mesmo ignorando a própria ignorância. A consciência de não saber, ou o fim da ilusão de saber, é condição sine qua non para o questionamento: qual o sentido da minha existência? qual o sentido dos meu atos? Filosofar, é acima de tudo, não saber, dar provas de nossa insuficiência em relação à verdade.

Lembrei de Lacan que no seu estilo provocativo afirma: "Eu digo sempre a verdade, nem toda, porque dizê-la toda é impossível". Sócrates possui a particularidade de nunca responder às questões mas sempre relançar o enigma. O analista, por sua vez, presentifica o enigma. 

Lacan socrático, Sócrates lacaniano. 

Seja como for, filósofos e psicanalistas - refiro-me naturalmente aos que mantém uma postura honesta com si próprio - tudo a ver.  

Com não saber.